Nos Açores, o Halloween é sinônimo de «Pão-por-deus», um costume antigo celebrado na ilha de São Miguel, por época de todos os Santos. Em tempos antigos, as crianças sobretudo das famílias mais humildes, percorriam as moradias da freguesia porta-a-porta para recolher as variadas ofertas em acordo com as possibilidades de cada família visitada.
A maçaroca de milho.
Na maioria dos casos, as pessoas davam maçarocas de milho, um cereal que numa altura em que as famílias eram muito numerosas, com 3, 4 e 5 filhos, tinha grande importância. A sua farinha era utilizada para confecionar o pão de milho, que acompanhava um bom prato de sopa à base de feijão, couves, batata e inhame. As guloseimas eram poucas e uma peça de fruta, uma fatia de bolo ou uma bolacha, por exemplo, já era motivo de alegria.
Quando lhes abriam a porta, as crianças cantavam:
«Vim bater à vossa porta, vim pedir o alimento, dai senhor uma esmola, pela alminha de quem lá tem. Pão por Deus, pelo amor de Deus, ponha aqui no saquinho, seja tudo pelo amor de Deus.»
Este costume foi se alterando ao longo dos tempos influenciado pelo progresso e melhorias econômicas das famílias, hoje em dia, no dia de “Pão por Deus”, é oferecido essencialmente guloseimas, perdendo se cada vez mais a identidade original em favor do Halloween que por sua vez, tem vindo a ganhar cada vez mais espaço impulsionado pelos agentes econômicos e globalização. Basta ir a um supermercado ou Centro Comercial com uma semana de antecedência ou assistirmos a qualquer meio de comunicação para sermos imediatamente envoltos pelo “Halloween”.
Como curiosidade, nos meus tempos de infância, habitei na freguesia da Agualva, ilha Terceira, e talvez por proximidade da Base das Lajes, este costume era “Americanizado”.
A expressão “Dia de Pão-por-Deus” não era utilizada e percorrendo as habitações das famílias Americanas, dizíamos à porta “Trica-Trica”, numa tentativa de imitar o inglês “Trick or treat”. O resultado era os bolsos repletos de guloseimas americanas, carinhosamente chamadas de “candilhos”, vindo do inglês “candies”.
Esta tradição do Pão-por-Deus também existe em Portugal Continental, quando na manhã do dia de Todos-os-Santos, 1 de novembro, as crianças saem em pequenos grupos e vão pedir e voltam com os sacos de panos cheios de doces, castanhas, pão, bolos e por vezes dinheiro. Hoje em dia, as crianças ao vir para casa com um saco cheio de rebuçados, chocolates, chupa-chupas e outros doces, nem imaginam como no tempo dos seus avós era difícil esses luxos.
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